sexta-feira, 24 de abril de 2015

Pra minha mãe é moda.

Às vezes o povo parece minha mãe. A minha mãe agora vive falando por aí que eu ando com "uns negócio de falar de preto". Ela nunca foi alguém que me ajudou, de forma direta, a ter orgulho da minha identidade negra, ou a entender como funciona o racismo, mesmo porque ela também nunca se envolveu com isso, nunca teve quem a incentivasse ou a ensinasse, aliás, chegou às vezes a negar. 
Foi essa informação rápida e de fácil acesso que minha geração teve que me fez chegar a assuntos antes discutidos apenas em coletivos ou por acadêmicos, e que me ajudou e ainda me ajuda (porque todos nós ainda estamos em construção) a aprender e a questionar tanta coisa do meio em que vivo. Eu acho que eu posso sim questionar uma sociedade que me fala que meu cabelo é duro e que eu preciso aceitar isso como uma brincadeira ou até mesmo como uma verdade, mesmo que isso me desvalorize, mesmo que eu e nem ninguém tenha achado graça ou gostado. A mesma sociedade, ou melhor, estudiosos dessa sociedade já chegaram a afirmar, se é que ainda não afirmam, que eu era biologicamente inferior (nessa época questionaram por mim).
Aí vem minha mãe e fala dos meus questionamentos como se fosse, sei lá, uma fase, uma onda que eu peguei sem saber, como se fosse uma "moda" que eu esteja vivendo e não entende como isso colabora pra minha formação como indivíduo e pra uma sociedade melhor.
E é assim que as pessoas andam encarando todas as discussões sobre racismo, feminismo e etc. Discussões tão necessárias nesse país em que cada vez mais são eleitos políticos em sua maioria preconceituosos, conservadores e desonestos. Eu compreendo que minha mãe não compreenda. Eu compreendo que às vezes essas discussões se resumam a ataques e a ego, mas elas são necessárias, esses assuntos são necessários e podem gerar bons frutos.
Não vou nunca compreender fulano vir me pedir pra eu ficar no meu cantinho, enquanto quem sabe discuta isso tudo por mim. Eu falo por mim.

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