quarta-feira, 26 de abril de 2017

Não te apaixones por uma mulher que lê, por uma mulher que tem sentimentos, por uma mulher que escreve.
Não te apaixones por uma mulher culta, delirante, louca.
Não te apaixones por uma mulher que pensa, que sabe o que sabe e também sabe voar, uma mulher confiante em si mesma.
Não te apaixones por uma mulher que ri ou chora quando faz amor, que sabe transformar a carne em espírito; e muito menos te apaixones por uma mulher que ama poesia (estas são as mais perigosas), ou que fica meia hora contemplando uma pintura e não é capaz de viver sem música .
Não te apaixones por uma mulher que é rebelde e sente um enorme horror pelas injustiças.
Não te apaixones por uma mulher que não gosta de assistir televisão. Nem por uma mulher que é bonita, mas, que não se importa com as características de seu rosto e de seu corpo.
Não te apaixones por uma mulher intensa, brincalhona, lúcida e irreverente.
Não queiras te apaixonar por uma mulher assim.
Porque quando te apaixonares por uma mulher como esta, se ela vai ficar contigo ou não, se ela te ama ou não, de uma mulher assim, jamais conseguirás ficar livre.

(Martha Rivera Garrido – Poeta Dominicana)

terça-feira, 18 de abril de 2017

Você que me tocou com esse coração de doação, peço perdão pela falta de noção, eu me escondi embaixo do caminhão, porque sou cão. Sou cão de rua. Apanhei do antigo dono e dos gatos mais malandros. Eu lato por tudo. Não, não mordo a mão que afaga, só não reconheço o afago, por isso morro de medo quando tua alma se aproxima. Quero fugir todo dia do seu lar, voltar pra rua. Mas hoje eu pensei no seu olhar fiel, eu pensei na nova sensação de ter um bom companheiro, eu pensei feito um cão... Naquele dia em que você me recolheu cheio de sarna. Em como você vem cuidando das feridas. E eu tenho vontade de cavar a terra fundo pra não esconder simplesmente nada. Eu não largo mais esse osso.
afro
dis
íaco
teu
vinho
bebo
feito
dio
nísio

segunda-feira, 10 de abril de 2017

O que esperar de quem prende bichos que voam em gaiolas e sela cavalos?

Hoje eu precisava de ópio ou de nada. Você me pressionou a arrancar qualquer coisa de dentro de mim e chamar de amor. Como um filho que não se deseja. Esse é meu grande pavor da maternidade, ter que amar pro resto da vida só porque todo mundo acredita que precisa. Eu nao sei amar pro resto da vida, talvez eu não saiba amar, prefiro poesia. Amor demais me sufoca, prefiro linhas que sei onde acabam. Acaba comigo essa angústia que carrego desde sempre. Esse peso que carrego por ser uma mulher problemática. Me sufoca. Me sufoca a decisão tanto quando a indecisão. Me irrita o endeusamento tanto quanto o desprezo. Me limita ter que retribuir o tempo inteiro. Me dê um tempo, amor. Eu preferia quando era só desejo. Eu não sei lidar, amor. Já me incomoda quase tudo no seu jeito. Eu nunca tive certeza porque eles nunca me pareceram certos, mas quem vai ser? Eu achei que meus problemas eram os paus pequenos. Mas eu não enxergo grandeza em absolutamente nada, isso parece tão egocêntrico e ao mesmo tempo solitário. Eu não me permito, mesmo? Será? Que grande bosta de dúvida se instala em qualquer parte do meu cérebro que chega me doer o peito como se eu tivesse o tempo inteiro com falta de ar? Por que é assim toda vez que eu tento amar? Pelo amor de deus, me fala qualquer coisa sem ser eu te amo.

sábado, 8 de abril de 2017

o que se espera
da mulher
não, é?
que seja uma sopa
rançosa
das que se come doente
pra melhorar?
o que se espera
da boa moça?
um par?
eu nunca pude
ser esse tipo
de prato
pois meu namorado
lacei no carnaval
louca de ácido
corajoso o homem
que não se faz enfermo
e adentra
meu inferno
eu não espero não
a liberdade
não se come fria
me desespera
a sua hipocrisia

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Evito temperamentos sórdidos

Clarice amplifica o meu conhecimento sobre mim mesma. Descobri ser uma amplificadora também. Isso explica tanta coisa... Desde a infância. As sensações que as coisas e as pessoas me causam são amplamente maiores. Acabo de me emocionar simplesmente por ver e tocar uma folha em branco. Um simples pedaço de papel sem marcas significa pra mim um infinito de possibilidades, uma válvula. Por isso não me deixo apaixonar tão fácil, por isso música alta me irrita tanto, por isso prefiro o escuro para descansar. Pra mim é muito mais profundo. No coração, no ouvido e na retina. Eu evito que a grandeza do mundo caia no meu abismo. Só não evito quando se trata de borboletas.
sem roupa da sua cama
assisto Badu dançando
hospedada no seu braço esquerdo
ao som de Lábios de Mel do Tim
enquanto você cozinha pra mim
alguma coisa cheia de tempero
pela moldura da porta
te aprecio parte por parte
seu pau parece uma obra de arte
você, um monumento um egípcio
um deus negro
tua existência me toca mais que Frida Kahlo
e o encontro dos nossos lábios fartos
supera o quadro d'O beijo
perfeitamente projetado pra me deixar em estado de transe
quando a gente transa
nos captamos em qualquer frequência
se a gente se olha de frente
sua vibração me atinge no córtex
da forma mais intensa
e sem controlar o instinto selvagem
chega a me dar vontade
de te engolir por inteiro
quero te sentir dentro de mim
tocando minhas carnes
teus dedos me desenhando com força
colorindo os lugares perfeitos