sexta-feira, 3 de julho de 2015

O curioso caso dos esquerdomachos

Ah! Os esquerdomachos... Criaturinhas que vistas de longe são pessoas totalmente formadas em sua consciência social e política, pessoas maduras e sábias. Só que quando enxergam-se como alvo do próprio tiro, tudo muda. Aí fica difícil reconhecer privilégios... E a voz engrossa, e a mão bate no peito e o esquerdomacho recolhe-se a sua arrogante pequenez.
De esquerda sim, mas antes de tudo, macho. E o que os machos fazem? Os machos cantam de galo.Os machos fazem discursos machistas. "Milita comigo, mas não quer dar pra mim? Vadia.""Quer uma sociedade livre, mas não quer relacionamento aberto? Paga de santa, mas todo mundo sabe que é vadia."" Acha que eu, homem militante, sou machista? Mal amada." Entre outras variações.
Se os argumentos não são suficientemente bons para combater discursos de ódio vindos de uma mulher, por que não usar de discurso de ódio também? Por que não usar de machismo? Por que não usar de xingamentos que inferiorizam a mulher denotando sua liberdade sexual? Por que não demonstrar descontentamento com expressões criadas especificamente para rebaixar mulheres? Engraçado que quando querem se ofender, homens não se xingam de piranhos, mas sim de filhos da puta. Opa! Adivinha quem é hostilizado nesse xingamento também?
Para os esquerdomachos as feministas são em sua maioria radicais. Existe uma carência maternal entre eles, tudo deve ser explicado carinhosa e delicadamente, para que eles se conscientizem de uma realidade que não vivem. Quando defendem suas convicções de forma assustadoramente contundente, lúcida e até mesmo agressiva são verdadeiros homens. Mas quando uma mulher defende suas convicções da mesma forma, a infantilidade só os permite a taxarem de: louca. Um homem sobe ao palanque e grita: "Morte à direita conservadora e assassina!", todos aplaudem, todos justificam, todos compreendem. Uma mulher sobe ao palanque e grita: "Parem de encher meu saco na rua, seus bostas!", e ela é considerada simplesmente uma exagerada por não compreender o desejo carnal inerente ao homem. Os caras praticamente debocham de sua própria capacidade de controle e consciência nesses momentos.
Eles raramente se interessam por algo que não os afeta diretamente, por isso, obviamente, não se interessam por feminismo. Geralmente reduzem o machismo a práticas violentas e estupro. Abusos sexuais diversos, abusos psicológicos, desigualdade social e econômica causada pela questão de gênero... Conversa! Nada disso diante de seus olhos, geralmente tão críticos, pode ser considerado parte do sistema de uma sociedade desigual e machista. Até porque se considerassem isso, teriam, provavelmente, que incluir suas próprias atitudes e discursos nesse sistema e eles detestam o sistema.
Entretanto, temos os esquerdomachos feministas. Eles dizem lutar pelas mulheres. Uhul!Eles gritam pela igualdade. Uhul! Mas reconhecer protagonismo feminino? Nã na ni na não. Desconstruir machismo na rodinha de amigos? Nã na ni na não. Quando uma mulher pede para um esquerdomacho para que ele se retire do seu local de fala e para que ele vá desconstruir em ambientes masculinos o machismo, adivinha o que acontece??? Isso mesmo, o discurso de mulher radical, histérica e arrogante retorna sem titubear. Incrível! E, enquanto isso, os amigos tão esquerdomachos quanto ele, destilam seu veneno machista. Pergunta se ele tem cu pra ir lá desconstruir? Se ele  tem cu pra pedir uma reflexãozinha sequer? Longe disso, é curtida atrás de curtida para os gênios.
É importante lembrar, antes que me taxem de algo que não se resume à "delicada" e "fina", que essa definição não se trata de implicância, não se trata de criminalizar o gênero masculino simplesmente por existir. Trata-se de um pedido de questionamento, uma cutucada mesmo. Reconheça seus privilégios e saiba que a militância não vai até a sombra do seu umbigo. Pergunte-se coisas como: por que considero o discurso da mulher sempre mais fraco, mais raso, mais "mal-amado', mais pretensioso que o meu? Por que uso de manobras que julgo desonestas para julgá-las? Por que combato opressão com opressão quando se trata de mulher? Será que isso me atinge? Será que contribuo pra uma sociedade melhor tratando com indiferença os descontentamentos das minas? Será que eu não sou um machista de merda mesmo? De que forma posso colaborar ao invés de ficar fazendo birrinha?
Esquerdomachos, por favor, reflitam. Se vocês gritam por quem não tem consciência ou voz, nós não fazemos diferente. O mundo e a luta não é só de vocês e nem só sobre vocês. Sejem menas. E vamos juntos ser mais.