domingo, 31 de maio de 2015

Prepara pra ser
Alguém que você não pode
Coração até dispara
Quando pensa em
Pose
Posses
Não!
Silêncio
Sem chance
Chega dessa chatice
Não chore
Chuta o balde!
Eu não me esqueço de quem eu sou
Meu nome é Anna
Aliterações harmoniosas pra me apresentar
Eu estudei literatura
Mas é com simplicidade que eu vou continuar
Rimas simples
Não envolvo finesse com cultura
Minha poesia é cantada
Diamante bruto
Não foi lapidada
Eu não tenho problema em ser lembrada como artista de rua
Repente, cordel ou rap
Que seja emocionante e genuíno
O valor da arte não se mede
Minhas raízes não são clássicas
Devo minha inspiração ao natural
À mãe África
Me dê licença pra brotar
E quero a melhor forma pra eu crescer
Eu não vou fugir de quem eu sou
E ninguém vai me dizer o que eu devo ser
Dependência, conveniência, falsidade
Não faço contatos
Prefiro amizades
Também não sou de pagar de sorriso à toa
Sem menção honrosa, sem massagem
Mas acredito com todas as forças em sentimentos verdadeiros
Parceria, respeito, lealdade
Nunca precisei usar de caminhos tortos
Para conseguir o que eu queria
Considero toda forma de arte
Me inspiro na sabedoria
Que não é presunçosa
Me identifico mais com espinhos
Do que com as rosas
Tentativas ditas refinadas por gente que se leva a sério
O que se considera bom
Depende muito do critério
Prefiro as rimas toantes
Ritmo rasgado
Palavras atuantes
A rebeldia da voz que grita o engasgado
E o engasgo não precisa ser só do cantor de rock londrino entediado
Caminho e sinto o chão a cada passo
Sonho, mas também me encaro
Gosto de aprender muito mais do que ensinar
Eu sou um pedacinho de nada de um pedacinho de cada
Dentro de tudo que há
Bossa nova não é minha única referência
MPB tem sua beleza
Mas bota um bom samba pra tocar
Continuo no meu caminho
Mas você sabe como é
Quem não quer escutar um samba comigo
Só porque não gosta do meu batuque
Eu fico esperta, me desculpe
Meu amigo e bom sujeito
Com certeza não é

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Essa poesia
Eu fiz no meio da solitária noite
Sozinha
Eu ando meio esquecida
Não da cabeça
Mas do verbo
Que tem como auxiliar ser
Eu fiz essa poesia pra você
É
Pra você
Talvez não devesse
Mas é pra você
E você sabe o porquê

quarta-feira, 13 de maio de 2015

13

Somos todos iguais
Todos brancos
Todos pretos
Todos índios
Todos seres humanos
Esse é o país da miscigenação
Mas na real
Eu quero ver quem vai dizer:
Eu sou preto!
Quando os gambé chegar com o cano na mão
Você acha que eles matam pela cor da alma?
Então, calma
Me explica porque a maioria dos jovens que morrem nesse país tem a pele escura?
O racismo existe sim
E no Brasil faz parte da nossa cultura
É uma doença que parece sem cura
Quando eu andava pelos corredores de uma universidade pública
Eu me perguntava
Onde estão meus irmãos?
Por que como eu eles não tiveram educação?
Ninguém quer saber de cotas
Mas já faz uma cota que eu vejo que negro não tem opção
Como a gente vai negar a história?
Como vai dizer que não tem mais segregação?
Se numa classe com trinta
De negro era só eu, o quadro e mais dois com a caneta na mão
Se você acha que isso é por acaso
Que é falta de estudo e não descaso
Que falta força de vontade pra neguim que não teve nem o ensino básico
Reveja seu pensamento raso
Mude seus conceitos
Se tem uma coisa que a gente ainda tem que discutir
Essa coisa é o preconceito
Só quem é sabe o que ser preto
O que é ser olhado de cima embaixo
O que é ser seguido toda vez em todos os corredores de supermercado
O que é alguém te ver vindo na mesma direção da calçada
Ficar com medo e mudar de lado
O que é ser suspeito em potencial antes mesmo de levar o enquadro
Na primeira oportunidade de piadinha escrota te oferecerem banana e chamarem de macaco
Preto, tifu, tiziu, você é mais escuro que a cor desse asfalto!
Se fosse por eles você seria pisado
A sociedade quer que você se sinta inferiorizado
Se morrer é um número a menos pro Estado
A maioria das pessoas da sua cor estão na miséria ou vendo o sol nascer quadrado
Branco, eu sei que às vezes a vida também custa pra você
Mas assuma, não custa tão caro
Não há argumentos que contestem os fatos
O buraco é bem mais embaixo
E a gente tem que falar sobre isso sim
Mesmo que incomode, mesmo que seja chato
É bonito pensar que somos todos uma coisa só
Eu não sou pessimista
Também quero um mundo melhor
Mas é preciso ser consciente do que acontece com a gente
É isso que nos liberta das correntes
É o que nos ajuda a desatar os nós
Questionar o sistema é o nosso dever
O mundo é bem mais complexo do que a gente vê na tv
Não confie nas frases feitas dos atores de Hollywood no facebook tentando te convencer
É triste, mas é preciso reconhecer
Que somos todos iguais o caralho!
O pior cego é aquele que não quer ver