Às minhas crias
Não oferecerei o pão da sabedoria
Não provarão sabor de conhecimento
A ignorância será sua benção
Ficarão protegidas
Da História por de trás da História
De qualquer teoria ou ideologia
De qualquer dúvida
De qualquer resposta ao senso comum
Que passem fome!
Mas não se frustem...
Não cheguem ao doloroso ponto
De precisar provar-se
Sem poder gozar da liberdade
De estarem alheias à superestimada
Tragédia do pensar
E que deus livre meus rebentos
De serem prodígios
Grandes gênios, letrados sensitivos
Os pensadores são como vermes
Que corroem todo resto
Até ficarem sozinhos no próprio mundo
A mente acaba por desenvolver-se
Ao ponto crítico de saber-se
E é aí que está feita
A maior das desgraças
A vida perde toda a graça
E a tudo se questiona
Não têm fim as verdades
E quanto mais as miram
Mais sentem-se pela metade
E ensimesmam-se
Em um abismo de si mesmos
Trancafiam-se, misantropos
Esperando que até o fim não se deparem
Com outras cabeças que sabem
Qualquer coisa a menos
Ou outras tantas
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