terça-feira, 29 de março de 2016

Muda

A militância exige que eu grite
Mas essa cidade só me causa
Silêncio
Pra que eu não permaneça calada
Me manifesto, então, em forma de versos
Só o que peço é que me escutem
Porque eu também sou poeta
Porque assim eu quis
Me desfiz
Do que ainda hoje
Querem que eu seja
Não sou mulata
Não sou mucama
Minha dona
Sou eu
Não esquento cama de doutor
Não obedeço ordem de quem for
A nenhuma Princesa Isabel
Devo favor
Ao contrário do que dizem
Eu sempre soube o meu valor
O que eu nunca soube
Mas tive que engolir
Foi o ir e vir de sorrisos amarelos
De um mundo não sincero e hostil
Porém me nego a abaixar a cabeça
E acreditar que eu só existi
No momento em que o outro me viu
Já tive que ouvir tanta besteira
Dessa Rio Preto cafona e interesseira
Que me prefere muda
Que me prefere nada
Que adora minha mão-de-obra barata
Mas não aceita que eu me torne destaque
Pois chamem de pretensão
O que sai da minha mente e coração
Essa é minha forma de combate
À essa casa-grande alternativa
À essa elite deprimente e bem sucedida
A esse bando de covardes

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